“Carobene
tinha razão: ali, de fato, era outra coisa. O calor estava violento
também em Augusta mas, sem a reverberação dos muros, provocava não mais
uma prostração bestial, mas uma espécie de leve euforia. O sol, perdida
sua garra de algoz, limitava-se a ser um risonho doador de energia,
apesar de violento. E também um feiticeiro que emoldurava diamantes
instáveis em cada uma das leves ondas do mar.
O estudo não era mais fadiga. Ao embalo ligeiro do barco onde
permanecia longas horas, cada livro não me parecia mais um obstáculo a
superar, mas a chave que abriria a passagem para um mundo cujos aspectos
mais fascinantes estavam diante dos meus olhos. Frequentemente
ocorria-me recitar em voz alta versos de poetas e os nomes dos deuses
esquecidos, que quase ninguém conhecia, e que roçavam outra vez a
superfície daquele mar que, antigamente, ao ouvi-los, levantava-se em
tumulto ou aplacava-se em bonança.”
(Giuseppe Tomasi Di Lampedusa, em "A Sereia".)
(Giuseppe Tomasi Di Lampedusa, em "A Sereia".)
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